(FOLHAPRESS) - A nova faixa de isenção do Imposto de Renda (IR), uma das promessas de campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), terá um impacto significativo na classe média do interior do Brasil, especialmente entre aqueles que votaram em Jair Bolsonaro (PL) no segundo turno das eleições de 2022.

Um estudo realizado pela consultoria 4intelligence analisou dados do Ministério do Trabalho e informações da Justiça Eleitoral para mapear quantas pessoas serão beneficiadas pela nova política. A medida, que será sancionada por Lula nesta quarta-feira (26) e entrará em vigor em 2026, isenta do IR cidadãos que ganham até R$ 5.000 por mês e reduz o imposto para quem recebe entre R$ 5.000,01 e R$ 7.350,00.

De acordo com a pesquisa, entre 17,9 milhões e 19,7 milhões de trabalhadores formais deixarão de pagar IR devido à mudança. A maioria desses beneficiados reside em regiões do centro-sul do Brasil, fora das capitais.

Os dados mostram que 66% dos beneficiados, cerca de 13 milhões de pessoas, estão em municípios onde Lula não obteve vitória nas eleições, enquanto apenas 34% estão nas localidades onde o petista foi vencedor.

Os estados que apresentam a maior proporção de trabalhadores formais beneficiados incluem Santa Catarina (42,2%), Rio Grande do Sul (40,4%), Paraná (39,4%), Mato Grosso (38,7%), São Paulo (38,6%) e Mato Grosso do Sul (35,1%). Em números absolutos, São Paulo é o estado com o maior número de beneficiados, totalizando 6,3 milhões.

Bruno Imaizumi, economista da 4intelligence, destaca que, apesar de Lula ter acertado ao aprovar a reforma do IR que beneficia uma parcela do eleitorado que não o apoiou, a polarização política pode impactar a eficácia dessa medida. Segundo ele, eleitores de classe média que residem no interior e que votaram em Bolsonaro podem continuar distantes do campo político petista, mesmo sendo beneficiados pela isenção do IR.

Na análise das capitais, a distribuição dos benefícios se mostra mais homogênea, sem uma relação direta com o voto. Aproximadamente 6,3 milhões de trabalhadores nas capitais serão contemplados, sendo 1,9 milhão apenas em São Paulo e 732 mil no Rio de Janeiro.

Karla Gobo, cientista política e Coordenadora de Humanidades da ESPM, ressalta que o impacto eleitoral da medida ainda é incerto. Embora questões econômicas sejam relevantes nas eleições, outros temas, como segurança pública, podem ter mais peso nas decisões dos eleitores.